sábado, 14 de junho de 2008

relações comerciais

Exportado



Ele esta fora
Fora da tomada
Esta desligado
Da fonte, do amor.
Desligado ele - esta
Por ti, em ti, contigo.
Ele gostaria de estar

Quando as rosas não mais são belas
Quando os raios, não mais.
Cortam o céu
O firmamento já não é mais azul e estrelado
Ele não se importa, esta desligado.
Já não se importa
Importante
Importado
Importantíssimo
Não, não, não mais se importa.
Vive num só estado
Não é mais exportado
Mero produto de exportação
Parado
Nacional não mais importado.

fome

foto: Sebastião Salgado; O mundo da maioria Mali
Estado de coma

C o m o.....c o m o.....c o m o
N ã o c o m o n ã o
c o m o
C o m a
n ã o c o m a n ã o
C o m a ........ c o m a .......c o m a

contra o ser

Mata,morre,cresce,caça,cresce,caça mata ,morre

E você, que é ser “pensante”.
E orgulhoso por sua condição
De ser o “tal”, aquele
A que nunca se diz não
Você que fede quando sua
E desnutre quando chora
Que carnificina, causa
Quando sua supremacia
Quer provar
Você que quando morre sangra
Ferroso sangue
Que quando mata

Que o sangue escorre
A carne apodrece
A terra consome
O tempo endurece
O coração de ferro
Sangrento ferro
Denso, que
Não perdoa
Não ama
Não quer bem
Que só o poder acalma
Você que produz, gera.
Mata
Maltrata
Você que se diz ser
Pensante, e se “gaba” por isso.
Você que quando se deita
Teme
À noite
A escuridão
E ver-se tão
Só, tão pequeno,
Incapaz, improvável!
Improvável ser o ser notável, capaz que
Ora creias ser...

A crise do ser na era da máquina

Não sou um robô
Não sou uma máquina
Sou um corpo e uma alma
E quero que me tratem como tal
Como gente, que sou
Penso, sinto e érro
Sou gente comum, como toda a
Gente que conheço

recursos alheios

O ouro


Era o ouro que o tolo creia ter
Ter o ouro para o tolo era crer
Crer ter o ouro para o tolo como ser


Crer em ter e ser, era como deixar de ser tolo
Eis que o ouro não era dele
E ele tão pouco era tolo
Era, esperto até de mais
Pois o ouro que o tolo creia ter
Era o ouro
Todo o ouro do povo...


foto: Sebastião Salgado / Exploração em mina na Serra Pelada Brasil 1986

não sonho

O homem, que não sonha: não é homem.
O corpo do homem que diz não ter sonhos
Não é corpo
É apenas suporte, para um pote
Vazio, para um vazo de terra morta.
Na qual nada, nada brota.
O homem que não sonha, não vive.
E nem vegeta
O homem que não sonha, não existe.
Pois não insiste...

instantes

E foi por um instante, como se eu estivesse, fora de mim, e visse eu fora de mim, e era estranho... Estranho eu estar por alguns instantes fora de mim... E ali naquele instante eu pude ver minha vida de outro ângulo, por um ângulo que nunca vi...



Instantes
In s tante
Tente ins
Sin etnet
Instantes se vão
Instantaneamente a vida se vai


Si vai.............

Aos seres

foto: Sebastião Salgado / Kwait ,1991



Matéria humana


Aquela pilha de corpos
Eu caminhava por entre eles, o mau
Cheiro e as moscas, e eu ainda
Vivo, eu havia restado.

Por que não dizer, eu havia vencido!

Corpos mortos na estrada!

Sei que suas almas, ainda falavam...
Choravam por suas filhas esposas e mães
Desamparadas nas cidades, longe dali.

E eu ainda vi corpos na estrada quando sai .
Meu país vencerá, eu para casa voltaria
Voltar!

Eu?

Eu meu corpo, matéria
Não eu alma, espírito, idéia
Eu ser
Não eu
Humano

Aos Artistas

O quadro ser


Escrever é como pintar
Pintar é como cantar
Cantar é como ler
Ler é como pensar
Pensar: os pensamentos dos outros
Antes já pensados
Pré-regrados, ditados
Impostos, autorizados
E tudo isso é como ser
O ser pensante que somos
Ou que pensamos
Acreditar que somos
Você é uma pintura
Que lê cantando
Canta escrevendo
Pensa lendo
E a cada dia a pintura
É diferente
Porque você é assim!!!
E as cores das tintas
nunca são as mesmas
porque os dias são assim
um de cada
cor, sabor e som.....

Um olhar de geográfo à poesia do centro de São Paulo.

foto: Camila Mafra / Centro de São Paulo visto do alto do Edifício Martinelli.

O som do Centro

Carros ultrapassam o sinal vermelho
Pessoas se atropelam nas calçadas
Corre, corre que não pára
Dia, noite vem e passa
Corre, empurra ata desata o tênis sport
Do office-boy apressado
corre, dói aperta o pé da recepcionista agitada
corre,corre desce sobe escada
sobe, desce ascensorista
vai e vem o motorista do ônibus
lotado, lento
e o operador do metro,
vem e vão os pensamentos
os preconceitos
os acontecimentos
vão , vem
São e deixam de ser
O sonho do pequeno, de crescer.
E do grande de ser maior
Vem e vão , impunidade
Crueldade, perversidade.
Na Cidade que não pára
Economiza energia elétrica
Mas não para de piscar
Economiza água
Mas não deixa de alagar
Corre, corre, nada.
E não pára
Produz e não recicla
Corre, corre e não pára.
Reconhece
Mas não pune
Ver
Mas cala-se
Corre, corre...
Foge.
E não faz nada...






texto de 2002, quando caminhava pelas ruas do Centro de São Paulo.